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Another Border

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Bekoji

Uma pequena cidade no interior da Etiópia
de onde já sairam diversos campeões mundiais de corrida
Fotografias e texto de Renato Amoroso
Bekoji, Etiópia, 2016

Era uma sexta feira à noite quando desembarquei com o Rafa, meu produtor, no aeroporto de Addis Abeba, na Capital da Ethiopia. Um produtor local nos aguardava e depois de deixarmos as coisas no modesto hotel, saímos para jantar e depois visitar uma balada na cidade. Foi a primeira vez que eu entrei num lugar cheio de gente e só eu e o Rafa éramos brancos. Foi um momento muito reflexivo pra mim, porque embora a gente tente ser compreensivo e dizer que entende o que passam os negros só naquele dia eu pude minimamente entender o que era ser uma pessoa diferenciada pelo tom da pele, embora não tenhamos efetivamente sofrido nenhum preconceito, os olhares todos do lugar nos encontravam como se fôssemos fluorescentes. Era a primeira vez que eu pisava no continente africano. 

Estava ali para documentar a vida numa cidade do interior do país, Bekoji, umas 6 horas de viagem da capital, que tinha produzido dezenas de campeões mundiais de atletismo. Corredores de fundo e maratonistas, famosos no mundo todo, estávamos lá para tentar estabelecer algumas conexões que explicassem o motivo pelo qual eles tinham tanto sucesso. O tamanho das pernas é um dos motivos, o tipo de treino é outro, a alimentação muito rica em carboidrato por conta da cevada cultivada na região também é um fator importante, mas o mais relevante de todos os motivos era bastante simples: correr era a única chance de conseguir escapar daquela vida palperrima. Enquanto nos países desenvolvidos pessoas se orgulham de correr uma maratona como conquista de um treino crescente de um longo tempo, um projeto em que vai se correndo cada mês um pouquinho mais até o dia da prova, em Bekoji corre-se algumas maratonas por semana, em mutíssimos inclusive, casos praticamente descalços.

É comum encontrar homens oferecendo serviço de costura pela cidade

Bekoji tem ganhado reconhecimento mundial como um verdadeiro berço de campeões do atletismo. Com uma população de cerca de 20 mil habitantes, essa humilde cidade rural tornou-se uma potência esportiva, e não é possível falar dessa história sem mencionar o do lendário técnico Sentayehu Eshetu, o "Coach",  provavelmente o maior formador de campeões de corrida do mundo.

Coach cresceu na região de Harar, na Etiópia, mas mudou-se para Bekoji para lecionar na Escola Primária de Educação Física da cidade em 1970. Aqui, ele começou a ver o potencial atlético das crianças que ensinava. Logo uma delas, Derartu Tulu, se tornou a primeira mulher africana a ganhar um ouro olímpico em Barcelona em 1992, conquistando o título de 10.000m. Sentayehu começou a realizar treinos diários para os jovens da cidade. Até o momento, suas sessões são frequentadas por até 200 jovens atletas, todos na esperança de seguir os passos de Derartu. O atletismo está se tornando um dos esportes mais lucrativos e muitos etíopes estão buscando o atletismo como uma porta de entrada para a prosperidade. Alguns até abandonam a escola para se concentrar no esporte em tempo integral.

 

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